sexta-feira, 26 de julho de 2019

Les enfants d'aujourd'hui

O que leva uma criança de três anos a pôr a pata de um gato na boca? Hoje em dia fazem coisas cada vez mais estranhas e sem sentido que nos perguntámos se nós, seres humanos aparentemente racionais, fizemos dessas coisas de pôr patas de animais na boca e ainda nos rimos disso. 
E essas crianças que estão quietinhas e divertidas, mas depois passa alguém a cinquenta metros de distância e elas atiram-se para o meio do chão e despejam um rio de lágrimas no tapete da sala, que por acaso já precisava de ser lavadinho. E coitado do inocente que passa a duvidar de si mesmo, questionando-se se por acaso não foi ele embarrar um pelito do braço na face da criança e ela lá começou com a gritaria.
Crianças, crianças. Se formos a apontar todos os tipos de crianças com certeza não saímos daqui antes das 20h e às 20h o jantar já está pronto e eu não estou para essas coisas de perder a refeição.
A mãe entra na sala, recusa-se a aceitar que a criança chegou há menos de dez minutos mas a sala já está em pantanas, tão em pantanas que ela até olha para o calendário, vai-se lá saber se não se passou um dia e ela se perdeu na cozinha. E enquanto isso, lá vai a pequenita levar o dedo ao nariz, arrancar um macaquito e atirá-lo ao ar. O tapete precisa mesmo de ser lavado, já lá vão macacos, vernizes e as migalhitas do croissant com chocolate que a mãe lhe deu. 
E passa o pai de um lado para o outro, entra um amigo, a conversa chega à sopa e ninguém sabe como, mas acho que isso é mais uma coisa de crianças, não é? É a sopa, as frutinhas do bebê, as papas, farinha láctea, não é verdade? Nem me ponham a falar de leite, porque vem a conversa das marcas, das alergias, e as promoções, nem me ponham a falar das promoções que já disse que quero jantar às oito! 
Voltando às criancinhas... As vossas também chegam a casa e tiram as calças? Lembra-me do avô, gorduchito, que chega a casa e desaperta o botão das calças, e agora nas férias é que é, já não há calças nem nada, e a cachopita é igual, anda na rua com o botão p'ra fora, chega a casa e lá se vão elas, anda-me de cuecas, onde já se viu? A sala já nem parece uma sala, já nem parece nada, e não passa de um franguelo dizem eles.
Foram dar um gato à criatura, e dizem que sim, é bom para as crianças terem responsabilidades desde cedo... Mas quais responsabilidades, qual quê? Anda a arrebolá-la de um lado para o outro como se fosse um nenuco. Depois lembra-se e agarra-a como se fosse um frango, e em posições mesmo estranhas, acreditem no que digo. Na gatita ninguém pensou, probezita. 
As vossas crianças também tem a hora da choradeira? É entre as dez e as onze, assim generalizado, e é porque são postas na cama, um bocado tarde devo já dizer. O pai diz ''Está na hora da camita'' e lá vão elas recambiadas, mas quando se lhes veste o pijama... Ai Jesus, acudam-me! Choram e choram e choram e não calam a matacra. Na salita estavam a cair de sono, contra o tapete sujo e tudo, até foram quando o pai disse ''Está na hora da camita'', mas será que pensaram que camita era algum tipo de código para geladito ás tais horas da noite? 
No dia a seguir vai a mãe, mais inteligente que o pai já diz ''Está na hora da cama'', ora vamos lá deixar as coisas explicitas, e a cachopita vai, como fez com o pai, mas quando vê a cama... Chora e chora e chora e a mãe bufa, mais impaciente que o pai. Vamos lá a ver que ela trabalha amanhã e também quer dormir, e para além disso ela está atrasada na novela. Nem o pai nem a mãe sabem o que fazer, porque foram tão específicos com a criatura que não viam mais o que fazer a não ser, claro, discutirem um com o outro. ''Oblá, ontem fui eu'' é o que ele diz, mas a mulher, ai a mulher que guardou aquilo a semana toda diz ''e eu? fui buscá-la à escola todos os dias'' e por aí vai, como devem imaginar. 
E a criança, perguntam vós? Pois é, chora e chora e chora. É agora que é preciso criar uma tática para pô-la a dormir, cansá-la, dizer-lhe que a gatita não vai brincar com ela porque ela está a ser feia, mas nada resulta porque os três anos não são fáceis para ninguém, principalmente para os vizinhos, que ouvem quando a cachopita chora e chora e chora, e ouvem os pais a discutir, ouvem quando a tia chega e grita que vai haver festa. Essa sou eu, a tia, mas nunca há festa nenhuma porque o jantar é às oito e às dez a criança já dorme. Isto tudo para dizer que a cachopita é a minha sobrinha e nela estão compilados todos os tipos de crianças apontados. Lá está ela a tirar macacos, daqui a dois minutos levanta-se e vem-me chagar a cabeça, e eu faço o que ela quer ou os macacos ainda acabam em mim e ninguém é capaz de lavar o tapete.    


quinta-feira, 25 de julho de 2019

La Doleur Exquise

É com toda a sinceridade que te digo que nunca nada antes me doeu tanto. 
E se vamos ser sinceras, digo-te já que não minto quando admito de uma vez por todas que todos os dias me questiono como tive a sorte de seres tu a calhar-me nos braços. Existe aquela expressão, como é que é? Caiu-te de para-quedas.
Numa perspectiva melodramática, confesso ter-me tornado uma daquelas personagens de livros e filmes, aquelas clichés e que às vezes julgamos. Sim, aquelas parvas mas tão parvas que se riem sozinhas, que vão na rua de uma forma tão natural e sorriem à vida, mesmo no meio de todos os terrores. Sou dessas e é porque penso em ti. Que parvoíce, não é? Para mim é parvo dizer uma coisa que me está chapada na testa.
E por falar em chapar, estava eu chapadinha no sofá, com sono e tudo, quando me vens tu chatear a moina, e dá-me vontade de escrever, porque dizem que é o que faço de melhor. Talvez seja, vai-se lá saber, nunca fui boa em muitas coisas, mas também já disseram que estou bem é calada. Talvez, mas como ficarei eu calada se me escorrem palavras pelos dedos e pela boca? A felicidade não se cala, nossa senhora.
Que hei eu de fazer se estou eu tão quietinha a bater uma caneta na mesa, à espera de algo que fazer, e lá vens tu, com essa expressão de parva que nunca olha para as fotografias e foi comprar uns óculos à harry potter que lhe ficam melhor do que uma cebola num bom estrugido? Que comparação, não é? Mas não há do melhor.
E datas? Jesus, como tenho a mania de decorar as datas mais importantes e contar as horas para sei lá... fazer não sei quanto tempo desde que te conheci? Era assim e contava só para mim. Mas o tempo contigo parece tão escasso que nem contei, com medo de saber, com medo de que este sentimento todo não caiba na porcaria de três ou quatro meses. Será que há um cálculo para o que sentimos? Quer dizer, dizem tanto que não conhecemos alguém há tempo suficiente para sentir tal coisa que acho que... Ora vamos lá ver. Quatro meses bem contados, dá uma média de 122 dias, não é verdade? Qualquer coisa assim. Dividindo 122 pelas décimas de sentimento que aterram no meu coração a cada palavra que trocamos... Isso dá quanto? Dizer boa noite no final do dia conta como palavra? E as madrugadas na conversa, conta como dois dias onde andamos a contar as migalhas do pão?
Não te sei dizer. Não sei dizer muita coisa, mas gostava de dizer ainda mais do que isso. Confuso, não é?
Quem diria alguma vez que era possível sentir-se apaixonada quando alguém nos manda uma imagem de um gato irritado? Olha-me que esta... Essa é boa. E com a imagem do gato lá vem as imagens irónicas e lá te mando eu algumas de volta, que já conheces, mas a gente finge que não é a quinquagésima vez que vemos aquilo na frente. Pff, apaixonada, Vai masé dormir.
E que faço eu se nem a dormir me largas? É de exagerar, mas confesso que durmo melhor e tudo. Não é nenhuma psicologia nem nenhuma coisa elaborada com explicação, é só um sonho engraçado que vai desde o momento que te toco a pele até nunca mais a largar. Que coisa, que coisa.
E eu não sei, não é aquele tipo de amor que te vá dizer que te amo daqui até à lua e da lua até aqui, sabes? Se te vou dizer uma coisa dessas é por palavras minhas, não por uma música qualquer que foi um hit em 2008 e dava no canal panda.
Mas já viste bem que me pões a usar palavras que eu nem sei bem o que significam, mas eu uso, porque tu usas, e lá tem que ser, olha o remédio se quero que me entendas.
Dás-me a conhecer uma parte de ti todos os dias, ou quase todos, porque gosto de excluir mentalmente aqueles que me deixas parva da vida a contar grãos de areia imaginários porque não estás. É verdade, sim senhor. E a cada parte nova, é como se o coração aumentasse mais, e tem que aumentar, afinal eu achava que não cabia mais nada, mas gostas de te meter comigo e provar-me o contrário. E, falando nisso, o que gostas mesmo é de me deixar louca quando me dizes preciso de te contar uma coisa e eu fico lá, à espera, pergunto o que raio é que é, e então desapareces, esvaires-te, como se nunca tivesses dito nada e que penso eu? Pois é, sabes que sou maluca e deixas-me assim. Não me estou a queixar, para ser honesta, a melhor parte é quando voltas e feita parva dizes algo como comi batatas hoje e não gostei. Sim, é uma hipérbole, mas não é tão longe da verdade quanto parece. Isso e quando me dizes que precisas de me pedir algo, o que não aconteceu muitas vezes, mas lá vai o meu coração mole gritar-me aos ouvidos é desta, é desta. E é desta o quê? Que te pões na alheta, o que nem sequer faz algum sentido, mas eu também nunca disse que ia ser coerente.
Esta coisa já está é a ficar grande e ainda nem disse metade. 
E esta música que tenho nos ouvidos e não me sai da cabeça e ainda nem tentei entender o que raio está para ali o homem a dizer, a falar espanhol e essas coisas de hoje em dia, e nem te vou dizer o que diz ele no refrão... Isto para te dizer que também te tive na cabeça por dias e tão pouco entendia porquê. É parecido, não é? A diferença que posso constatar é que daqui a três dias quero lá saber da música, e tu que já cá estás à bem mais do que três semanas, pairas e pairas, e nada de te ir.
Lembraste que quando prometi sinceridade falei de dor? Ali em cima, caraças. '' É com toda a sinceridade que te digo que nunca nada an...'' Sabes? É que a dor é como as lágrimas. Ninguém o diz, mas juro que é verdade. Inventaram essa de que as lágrimas podem ser de felicidade. Pois bem, eu que gosto de inventar, inventei que a dor também pode ser de felicidade. E sabes porquê? Dás-me cabo do juízo, outro que foi com o piiii assim que me azucrinaste o miolo. Explico-te então que a dor pode ser de felicidade porque não me deixas sentir outra coisa perto de ti, então tive que tomar medidas drásticas. É isso e a puta da saudade, mas adiante. E se a dor é boa, só me resta dizer-te que me dóis tanto. Juro-te, és daquelas feridas que ficam ali e magoam só por existir, às vezes até custa a olhar. Urrr, que coisa feia. E não me obrigues a explicar-te que se estou a dizer-te que a dor pode ser feliz, então uma coisa feia... Olha que te fica mal não entender. 
Devo dizer-te, já que digo tudo, que tenho o filho da mãe de um porta-chave num carrinho de um site qualquer com a tua morada como endereço de entrega, mas aquilo pede-me uma coisa  qualquer que não sei o que é, então se leres isto diz-me logo qual é a porcaria do teu CPF. Juro-te que é um bonito e que até podes gostar, tem um aviãozinho e tudo, e um postal que diz I love you. E olha, nos últimos dias, quando me disseste que pela primeira vez eu tinha dito que te amava, é porque honestamente... honestamente... quando me disseste eu achei que fosse uma alucinação daquelas... parvas. Mas pronto, manda-me lá o CPF para quando chegar aí me poderes dizer que cantada ruim, como dizes sempre que eu tento. Não culpes uma rapariga por tentar que eu fui ensinada que a moral da história é que pelo menos... tentei.